PENSANDO CINEMA por Tadeu Santos

UM POUCO DE CINEMA E VÍDEOLOCADORAS.


Nada mais é como antigamente, nem mesmo você que acabou de ler o início da frase (de acordo com Lavosier) não é mais o mesmo. A referência serve ao espetacular avanço tecnológico que estamos vivenciando. Dentro deste contexto revolucionário abordaremos o impacto na trajetória das vídeolocadoras de vídeo que entraram no mercado num período que as tradicionais salas de cinema estavam passando por momentos difíceis, com pouco público... Nesta mesma época as salas de shopping em grandes centros já apontavam que queriam o mercado de cinéfilos oferecendo estacionamento, lojas, lanches e segurança.
As primeiras vídeolocadoras no estado de SC surgiram no início da década de 80, em grande parte com fitas ‘’piratas’’ na época chamadas de ‘’alternativas’’, pois existiam pouquíssimos títulos originais denominados de ‘’selados’’. O mercado de VHS cresceu vertiginosamente no final de 80 e início de 90 com milhares de títulos enchendo as vídeolocadoras e esvaziando os cinemas do interior. O Cine Roxy de Araranguá, por exemplo, fechou em 1994. Paralelamente os prédios dos cinemas transformavam-se em espaços para cultos religiosos. Antes desta reviravolta ocorrer, em Araranguá aconteceram dois fatos que valem ser registrados, primeiro a iniciativa do então prefeito Antonio Eduardo Ghizzo convidando-me a exibir uma programação especial em todo final de mês no Cine Roxy em troca de impostos com a renda revertida para o asilo de Araranguá. Orgulhamo-nos de haver exibido Cinema Paradiso e Jean de Florete e a Vingança de Manon, com Yves Montand e Gerard Depardieu, baseado na obra de Marcel Pagnol.
O outro fato foi uma espécie de movimento para não deixar o cinema fechar, na época formada pelo Fernando Grechi, Ivan Balthazar, Checo do Canto e Carlinhos Mariozan, havia mais dois, mas confesso que no momento não lembro. Tentamos inclusive arrendar o cinema para o mantermos funcionando, mas o proprietário nos encabelou e vendeu sem nos avisar para uma rede de lojas. Um terceiro fato de relevância cinematográfica foi filmarmos todo o desmanche da sala de exibição com a autorização do Nivaldir, o último gerente do Roxy.
Enquanto isso o VHS levava o cinema para os lares de milhões de pessoas, mas por volta de 1997 começou a declinar e então surgiam nas vídeolocadoras os primeiros discos de DVD e a partir de 2000 já faziam parte do acervo das vídeolocadoras. Foi a grande retomada de mercado para as vídeolocadoras, dando uma excelente oxigenada com bons títulos, mais qualidade e opções extras. Uma nova crise está ameaçando as vídeolocadoras com a criminosa pirataria (agora oferecem de casa em casa, geralmente usando menores, até pra venderem títulos pornográficos). As TVs por assinatura e a Internet possibilitando baixar filmes com facilidade, dificultam a sobrevivência das vídeolocadoras, além da exagerada concorrência desleal de aventureiros no ramo e outras forças ocultas/malignas que não cabe mencionar aqui.
A Vamerlattis/Kane fechou no início do ano, depois de 23 anos conversando prazerosamente cinema todos os dias com amigos e clientes. Era a segunda mais antiga em funcionamento no estado de SC, com acervo cultural único (Parte de seu acervo encontrasse na Nevaska no Arroio do Silva). A mais antiga ainda atuando é a Hobby Tape de Joinville e agora a segunda é a Vídeo Beta em Criciúma, com um dos melhores acervos do país. O Blue Ray está chegando, mas sem a força que o DVD tirou o VHS. Os cinemas de shopping perderam público, talvez pelo alto preço do ingresso, mas irá baratear quando adotarem o sistema de exibição digital, ou seja, qdo acabar o celulóide. Vamos ver no que vai dar, porque afinal nada se cria, nada se perde, tudo se transforma!!!

Tadeu Santos (www.vamerlattis.blogspot.com)
Um ‘’cineasta frustrado’’, apesar de constar no livro sobre a história do Cinema em Santa Catarina, com o documentário sobre as eleições de 1982, filmado em Super- 8, no final da ditadura militar, editado pela UFSC, de autoria do Zeca Pires, Norberto Depizzolatti e da Sandra Araújo.